Até breve!

A partir desta semana, passo a integrar a equipe – praticamente um Trio Parada Dura – de colaboradores do blogue Memória Avaiana, brilhantemente mantido há anos (desde 2009, se não me engano) pelo Felipe Matos com apoio do Marcelo Herondino.  Vou colaborar com posts e auxiliá-los a colocar em prática várias novidades que não posso contar agora porque o novo chefe ainda não autorizou.

O convite do xará muito me honrou, pois sou um fãzaço do Memória Avaiana e a rica história do Avaí é um assunto que muito me interessa. Isso significa, porém, que vou ter que dar um tempo, mais uma vez, no Solta o Leão, que mantenho desde novembro de 2011 nessa nova versão do WordPress (entre 2008 e 2009, tive um blogue com mesmo nome no Blogspot). Além de ter que me dedicar ao novo desafio, estou numa fase de pouco tempo na vida pessoal, por conta de compromissos de trabalho e estudos (mestrado). Ainda tenho que fazer as coisas que gosto – a vida não é só trabalho – e dar atenção a mulher, pais, irmãos etc., então as semanas passam cada vez mais rápido.

É impossível abraçar o mundo e, por isso, pararei por um tempo com o Solta o Leão. Agradeço a todos que visitaram, leram, comentaram, concordaram, discordaram, debateram comigo nesse tempo todo. Meu objetivo nunca foi ter grande audiência, mas apenas dar meus pitacos sobre tudo que envolvesse o Avaí. Se tivesse alguém pra ler e conversar a respeito, melhor ainda (foram aproximadamente 75 páginas vistas por dia, segundo o WordPress). Escrever sobre uma de minhas grandes paixões é pra mim um grande divertimento. Pode ser que de vez em quando volte aqui para comentar um ou outro assunto ligado ao Avaí ou futebol.

Até mais, então! E, mais uma vez, obrigado a todos. Espero que me acompanhem também no Memória Avaiana.

Um leão na Toca

Para quem quer matar saudades do jogador mais raçudo de todos os tempos, tá aí a chance!

Mais INFORMAÇÕX (abraço, @migueldebate): www.facebook.com/conselharia.

Reis, “Ro”s, let’s go!

O Avaí tem 27 gols marcados no Chevettão 2013, dos quais 11 foram feitos pelos atacantes (Reis – 4, Rodriguinho – 4, Roberson – 2 e Danilo – 1). Jean Carlos, do Atlético, e Rafael Costa, sozinhos, têm esse mesmo número de gols. O nosso artilheiro ainda é Marquinhos, que não marca desde o penúltimo jogo do turno, contra o Guarani (ou seja, há nove rodadas).

A gente reclama da defesa, mas o ataque também não está lá essas maravilhas. Reis foi muito bem nos primeiros jogos, marcando quatro gols em quatro partidas como titular. Nos três últimos, passou em branco, embora ache que ele cumpra um papel importante no nosso esquema. Já Roberson (que também foi bem nos primeiros jogos) e Rodriguinho ainda não disseram a que vieram. Qual deles deve ser titular? Não sabemos dizer, não é?

Se passarmos para as semifinais, vamos precisar de um ataque mais eficiente para enfrentarmos Criciúma ou Chapecoense (não tem mais Cambura), ainda mais porque, provavelmente, a vantagem do empate não será nossa. Se levarmos um gol, teremos que fazer dois. E quem vai marcá-los? Mais capricho, gurizada, senão o bicampeonato fica difícil.

Gols no Chevettão

Marquinhos – 5

Reis – 4

Rodriguinho – 4

Marrone – 2

Nádson – 2

Roberson – 2

Alê – 1

Danilo – 1

Dinélson – 1

Eduardo Costa – 1

Jéferson Maranhão – 1

Pablo – 1

Paulinho – 1

Ricardinho – 1

Passes para gol

Marquinhos – 3

Reis – 2

Arlan – 1

Jéferson Maranhão – 1

Rodriguinho – 1

Roberson – 1

Tente, invente, faça algo diferente

Estamos perto da classificação para a semifinal, mas nós, que não tapamos o sol com a peneira, sabemos das limitações do nosso time. Pra chegar no Chevettão, quem sabe até ser campeão, dá. O que não significa que seja uma grande equipe. A de 2012, por exemplo, eu considero que era muito melhor.

Só que não adianta ficar chorando as pitangas agora. O elenco é esse e Ricardinho que se vire. Talvez ele possa se inspirar em dois ex-treinadores azurras: Silas e Hémerson Maria.

Na Série A de 2009, o Avaí perdia, perdia, perdia, até que Silas resolveu inovar. Colocou um centroavante de 1,84m de ala pela direita, fez um 3-6-1 com Muriqui de meia-atacante, puxou Ferdinando da lateral para a volância e o time que era lanterna acabou em sexto.

Silas também fez um entrevero no time que foi semifinalista da Copa do Brasil em 2011. Se lembrarem, nossa “zaga” no 3-5-2 tinha dois cabeças-de-área (Bruno e Révson). Diogo Orlando foi ser ala pela direita e até Julinho virou atacante no primeiro tempo contra o São Paulo (tá, essa não deu certo, mas ele tentou).

Hémerson Maria também mexeu bastante no time que era treinado por Mauro Ovelha. Colocou Pirão na lateral, Mika no meio, Felipe Alves como meia-atacante e deu certo. Na hora do aperto e com a falta de opções, na semifinal em Chapecó (eu fui e vi), colocou o lateral Patric de atacante – e ele fez o gol da virada por 2 a 1.

Vai dar certo sempre? Não. Mas tentar, inovar, pode trazer bons resultados. Difícil é querer que as coisas mudem fazendo as mesmas coisas de sempre. Aproveita que o jogo é contra o Camboriú e arrisca alguma coisa, Ricardinho. Fica a dica.

Exagero

Marquinhos pode ter exagerado ao bradar aos microfones que Celinho Amorim “rouba” o Avaí. Mas ele já recebeu uma punição proporcional ao seu “erro”: advertência. Beleza. É o recado de que ele não é intocável e, se fizer de novo, pode ser suspenso por um a seis jogos. Acho que todo mundo percebeu isso.

No entanto, o procurador Feipe Bogdan acha que não foi o suficiente. Ele recorreu da decisão anterior do TJD e lá vai o Marquinhos ser julgado novamente. Para o procurador, um punição justa seria de um a dois jogos de suspensão pro camisa 10 da Ressacada.

Pois eu, leigo em direito desportivo, discordo. Como disse, acho que Marquinhos já recebeu uma punição proporcional ao seu erro. Nos último dias, houve muitas críticas na internet às decisões do TJD, e o seu presidente, Mário Bertoncini, teve que prestar esclarecimentos aqui e ali, defendendo o tribunal, dizendo que a paixão clubística não interfere nos julgamentos e por aí vai. Acho que o presidente vai ter mais trabalho agora, por causa dessa vontade de punir severamente o Galego.

Em tempo: Maylson, do Figueirense, disse após o clássico que o Avaí só ganha com ajuda da arbitragem. Vai ser julgado? Punido? Advertido? Ficamos no aguardo.

Parceria

A RBS vai transmitir Criciúma x Metropolitano no domingo. Realmente, é o jogo mais “quente”, o único com dois times que ainda brigam por algo no campeonato. Boa escolha.

Fico imaginando, porém, o desespero dos tigrelinos ao saber que a emissora gaúcha transmitiria Metropolitano x Avaí no domingo passado, e não o jogo deles contra o Figueirense. Era um confronto entre os grandes de Santa Catarina, eles poderiam ser campeões do turno no Scarpelli mesmo, mas… a gauchada preferiu o Avaí.

Vejo muita reclamação contra a RBS, mas a verdade é que ela é bastante pró-dupla manezinha. Todo ano Avaí e Figueirense dominam as transmissões de jogos do Catarinense. Lembro que, em 2011, a escala chegou a ter previstos 16 jogos da dupla como visitantes transmitidos (ou seja, transmitidos para onde está a imensa maioria de suas torcidas) em 18 rodadas. Mudou um pouco no decorrer do campeonato porque o Leão fez um primeiro turno pífio e nas rodadas finais suas partidas não foram transmitidas, dando lugar às de Criciúma e Figueirense, que faziam boas campanhas.

Em 2013, já tivemos 18 partidas transmitidas pela RBS (algumas das primeiras rodadas tiveram dois jogos transmitidos, lembram?) e, mais uma vez, Avaí e Figueirense dominam. Foram sete jogos do Figão como visitante transmitidos e seis do Leão (o sétimo seria contra o Guarani, aquele que foi cancelado). Depois, e bem depois, vêm Criciúma e Joinville (dois cada) e Chapecoense (um). A transmissão de domingo será a primeira do Metropolitano.

Ou seja, em 70% das transmissões na primeira fase, lá estavam os patrocinadores de Avaí ou Figueirense ao vivo, em TV aberta, para milhares de espectadores da Grande Florianópolis, no mínimo, e quem sabe de outras regiões do estado (não sei se a RBS transmite sempre em rede estadual).

Se alguém tem mais motivos para reclamar da RBS são os torcedores dos times do interior. Já os dirigentes desses clubes, eles são maioria e ainda assim assinam contrato com os gaúchos. É impressionante.

Cenários

Acho que é isso:

1) Avaí ganha do Camboriú.

a) Classifica-se pelo menos em quarto no geral. Uma exceção: se Criciúma empatar, Figueirense não perder de goleada e Atlético for campeão do returno (teria que fazer seis gols de diferença na Chapecoense). Nesse caso, pasmem, ficaríamos de fora. Mas não vai acontecer.

b) Pode ser campeão do returno se o Atlético não vencer a Chapecoense, o Criciúma perder e o Avaí conseguir tirar 12 gols de desvantagem no saldo em relação o Tigre. Tá, não vai acontecer, mas pode.

c) Pode ser terceiro no geral se o Criciúma perder, o Atlético for campeão do returno e o Figueirense perder para o Juventus (além disso, o Avaí tem que tirar uma desvantagem de sete gols no saldo em relação o Figão). Também não deve acontecer, mas pode.

2) Avaí empata com o Camboriú.

a) Classifica-se em quarto no geral se o Atlético, o Joinville e o Metropolitano não vencerem.

3) Avaí perde para o Camboriú.

a) Classifica-se em quarto no geral se o Atlético e o Joinville não vencerem e, quanto ao Metropolitano: a.1) se o Leão perder por um gol de diferença, o Metrô não pode vencer nem empatar tirando a diferença de cinco gols marcados a mais em favor do Leão (algo como Avaí 0x1 Camboriú e Criciúma 6×6 Metropolitano, o que é improvável); a.2) se o Leão perder por mais de um gol de diferença, o Metropolitano tem que perder.

Mais um passinho

Não foi uma maravilha de futebol (alguém esperava?), nem veio a vitória como em outros anos em Blumenau, mas o empatezinho suado nos ajudou a dar mais um passo rumo à semifinal. Na próxima rodada, pegamos em casa o rebaixado Camboriú, que ontem levou 5 a 0 dos Ovelha Boys de Ibirama. A hipótese de não vencermos é inaceitável.

A chance de ganharmos o returno é remotíssima – temos três pontos e 12 gols a menos de saldo que o Criciúma. Vamos pelo índice técnico e provavelmente em quarto lugar. Vamos decidir sempre fora. Igual a 2012.

Ricardinho (o treinador) surpreendeu e escalou o time com três atacantes contra o Metropolitano, os três Rs (Reis, Roberson e Rodriguinho). Isso, no entanto, não significou chances criadas no primeiro tempo. Tivemos só uma oportunidade clara com Reis antes de Pablo abrir o placar, de cabeça, após cobrança de escanteio de Marquinhos. Quatro de nossos últimos cinco gols saíram de bola parada. Defensivamente falando, o meio-campo menos povoado (creio que deveria ser um 4-2-3-1, mas não funcionou) permitiu ao Metropolitano vários contra-ataques na primeira etapa.

No segundo tempo, mudamos para o 4-3-1-2, com a entrada de Ricardinho (o volante) no lugar de Reis. Era a nossa vez de jogar nos contra-ataques, mas… não funcionou. O Metropolitano veio para cima e empatou de pênalti cometido por Alef, que foi expulso. Com 10 em campo, o Avaí fechou-se, acabou o jogo sem nenhum atacante (Marquinhos ficou de “centroavante”) e conseguiu segurar a pressão dos caras, diria, até sem muito susto.

O Avaí segue com o mesmo futebol pobre de sempre, ganhando mais na transpiração que na inspiração. Até o momento, nossas maiores “goleadas” foram 2 a 0 contra Guarani e Chapecoense. Pro Chevettão, dá pro gasto.

Dia de fim da linha para o Metrô

All my good life I’ve been a lonely man,
Teaching my people who don’t understand;
And even though I tried my best,
I still can’t find no happiness

(Stop that train, de Bob Marley & The Wailers. Tradução aqui)

Apenas cinco clubes estão no Campeonato Catarinense desde 2005 sem nunca terem sido rebaixados em campo: Avaí, Criciúma, Figueirense, Atlético de Ibirama (disputou a segundona em 2011 por ter pedido licença após o campeonato de 2010) e o nosso adversário de hoje, o Metropolitano. O Metrô, enésimo clube a tentar conquistar os corações da alemoada, foi fundado em 2002 e busca, desde então, obter mais relevância no futebol catarinense.

Hoje podemos dizer que o Metropolitano disputa o status de “sexta força” do futebol catarinense com o Atlético de Ibirama. Na contagem de pontos no estadual desde 2005, por exemplo, eles estão quase empatados: 227 para o Atlético e 224 para o Metrô. Os ibiramenses costumam fazer campanhas melhores – foram vice em 2004 e 2005, terceiro em 2007 e quarto em 2006 -, mas ficaram fora do campeonato de 2011 depois da “licença”. A campanha de maior destaque dos blumenauenses foi a de 2008, quarto lugar. De resto, nada de muito fantástico.

Pelos resultados dos últimos anos, percebe-se que o Avaí é um dos empecilhos para o crescimento do Metropolitano. Em 2009, 2010 e 2012, eles poderiam chegar às fases decisivas do campeonato, mas… sempre teve um Leão no meio do caminho. Sempre em Blumenau, onde eles costumam entregar partidas importantes. Na Série D do ano passado, por exemplo, venceram o Mogi Mirim lá em São Paulo, mas cavaloparaguaiaram no Sesi e perderam a vaga nas quartas-de-final da competição nacional.

Eu acho que o futebol catarinense carece de times tradicionais. De 23 equipes campeãs estaduais, somente 10 estavam na ativa no futebol profissional em 2012 (a saber: Avaí, Brusque, Caxias, Chapecoense, Criciúma, Figueirense, Hercílio Luz, Internacional, Joinville e Marcílio Dias). É quase inexplicável não ter existido em Blumenau nos últimos 25 anos um time capaz de fazer frente aos grandes do estado – trata-se do terceiro município e quarto maior PIB de Santa Catarina. Por isso, torço sinceramente pelo sucesso do Metropolitano.

O time blumenauense atrai no campeonato deste ano 1,5 mil torcedores por jogo, o que corresponde a 0,5% dos habitantes da cidade – o pior índice entre os 10 clubes do Chevettão 2013. Mesmo assim, e com as ameaças da volta de um BEC genérico (o original, fundado em 1919, faliu), creio que o Metrô  pode ganhar mais torcida e ser em breve uma das forças do estado. Mas não agora. Hoje é dia de, mais uma vez, a estação Leão da Ilha ser o ponto final para eles.

Únicos entre muitos

Não sei dizer exatamente quantos, mas suspeito que haja no mundo dezenas, quiçá centenas de milhares de clubes de futebol. Cada um tem sua história e é único para seus torcedores, incomparável a qualquer outro. No entanto, creio que haja alguns que são mais “únicos” que outros, que se destacam nessa imensidão de clubes sociais, empresa, chocadeira e todas as classificações possíveis e imagináveis.

Na Alemanha, por exemplo, há um pequeno clube chamado Sankt Pauli que é fora do comum. Pra começar, seu uniforme é marrom. “Primo pobre” de Hamburgo, onde o mais vitorioso é o time que leva o nome da cidade (campeão europeu em 1983), o Sankt Pauli tem sede na região do porto, perto de muitas “casas das primas” e de agitada vida noturna. O presidente anterior do clube (2002-2010) é gay, a torcida tem forte influência de movimentos de esquerda e tanto os torcedores quanto a instituição fazem abertamente campanha contra racismo, sexismo, xenofobia e homofobia. O clube chegou a retirar um anúncio de revista masculina de seu estádio porque era ofensivo às mulheres (já pensasse?). Por essas e outras, o Sankt Pauli tem mais fãs do que seus fracos resultados em campo poderiam lhe dar (está na segunda divisão alemã e não tem nenhum título de destaque em seus quase 103 anos de história).


Torcida do Sankt Pauli fazendo manifestação contra a homofobia.

O Sankt Pauli desperta orgulho por sua atuação em causas sociais. Outros clubes geram o mesmo sentimento por representarem perante o mundo uma região. São os casos dos espanhóis (contra a vontade de muitos de seus torcedores) Barcelona e Athletic Bilbao. É famosa a história de que os jogos do Barça eram um dos raros momentos em que os catalães podiam falar seu idioma e expressar seu orgulho nacional durante a ditadura de Francisco Franco. Recentemente, num jogo contra o Real Madri, diversas bandeiras da Catalunha foram vistas nas arquibancadas do Camp Nou.

Mas o Barcelona, como clube, hoje não entra muito nessa dividida de Catalunha x Espanha – é mais um comportamento de sua torcida. Diferente do que faz o Athletic, que só aceita em suas equipes jogadores nascidos ou formados nas categorias de base de clubes do País Basco. Não importa origem étnica (há descendentes de angolanos e ganeses na equipe), nem local de nascimento (Amorebieta, zagueiro da Seleção Venezuelana, joga no Athletic), desde que o atleta tenha sido criado dentro dessas regiões, conheça sua cultura e seus valores. Isso não está escrito em nenhum lugar, nem em estatutos – é uma filosofia do clube de sua torcida.

Athletic e Barcelona simbolizam, para seus torcedores, a resistência ao governo central espanhol. Não raro, em jogos entre os dois, ambas as torcidas vaiam a execução do hino da Espanha. Pode haver outros casos como os de Barcelona e Athletic, mas são, sem dúvidas, clubes singulares.

Assim como o Athletic, Chivas (México) e El Nacional (Equador)  também só usam jogadores “locais” – no caso, nascidos em seus países. O Chivas adota essa prática desde o início do profissionalismo no futebol mexicano. Por isso, ganhou o apelido de Mexicanísimo (“Mexicaníssimo”). Já o Nacional equatoriano é o time das Forças Armadas e, provavelmente, vem daí seu “orgulho nacional”.

Há clubes, como os dois espanhois ou Sankt Pauli, que já estiveram associados a causas políticas e sociais em algum momento de sua história e carregam isso até hoje. Aqui no Brasil, embora já se saiba que não tenha sido o pioneiro em escalar um jogador negro, o Vasco da Gama foi o primeiro clube do Rio de Janeiro a formar uma equipe com maioria de jogadores negros, mulatos e pobres, tendo importante papel na integração racial e social no futebol carioca e brasileiro (na época, o futebol era dazelite, não tem?).

No Uruguai, o Defensor foi um símbolo da resistência contra a ditadura na década de 1970. Com pequena torcida e treinado por um esquerdista (Ricardo de León), recebia reforço nas arquibancadas de torcedores de Peñarol e Nacional, que iam aos jogos do Defensor protestar contra o governo. Quando foi campeão uruguaio pela primeira vez, em 1976, o time do Defensor começou a volta olímpica no sentido anti-horário, pela esquerda, e essa tradição segue até hoje. Genial.

Protestos, politização, ditadura. Lembra a campanha “Diretas Já” da década de 1980 no Brasil, da qual participaram jogadores do Corinthians, que na época vivia sob a “Democracia Corintiana”, um movimento que pregava as decisões democráticas e a autogestão entre jogadores do clube, liderado por Sócrates, Wladimir, Casagrande e o avaiano Zenon. Essa foi uma das passagens mais ricas da história do Corinthians, mas o que realmente marca o clube paulista, o torna diferente dos outros, é sua torcida. Dizem que o Corinthians “é uma torcida que tem um time”, e não o contrário, e que o número de corintianos cresceu durante os 23 anos de jejum de títulos estaduais (1954-77) – daí o apelido Fiel para a torcida. A invasão corintiana no Japão no Mundial de Clubes de 2012 (estima-se de 15 a 25 mil torcedores) entra para a história do futebol mundial. Não à toa, os jogadores do Chelsea ficaram boquiabertos quando entraram em campo e viram aquele mar alvinegro nas arquibancadas. Difícil imaginar torcida que seja tão fiel e doente.

Do outro lado do mundo.

Paixão e loucura de uma torcida, associadas a um estádio mítico, é o que torna único o argentino Boca Juniors. Eu tenho essa teoria, a de que o Boca não é nem um clube, nem um time, mas uma torcida e um estádio. Quando se fala no nome dele, o que vem à cabeça logo, mais do que títulos e grandes jogadores que eles tiveram, são as imagens da Bombonera lotada, chuva de papel picado, malucos trepados no alambrado, chamas ardendo ao redor do gramado, facas e adagas voando contra os adversários e tigres e leões saindo de alçapões para dentro do campo (tipo Gladiador, não tem?). Isso, pra mim, é o Boca Juniors, mais do que as seis Libertadores, Maradona ou Riquelme.

Dedicação a causas sociais e políticas, orgulho nacional, resistência a ditaduras, torcidas numerosas, fiéis e fanáticas. Esses  características ajudam a diferenciar alguns clubes  dentro desse cada vez mais pasteurizado mundo do futebol, onde as agremiações fundadas por operários viram empresas, têm acionistas e donos bilionários, são compradas e vendidas como fábricas de salsicha e comportam-se como corporações multinacionais, buscando “novos mercados”, “clientes” na Ásia etc. Pra mim, hoje é mais fácil identificar a diferença entre o charm e o funk que entre vários dos grandes clubes do futebol mundial.

E o Avaí, hein? O que tem de diferente dos outros? Será que tem? Ou é igual a um Joinville, um Figueirense, um Criciúma, só muda a cor da camisa e o endereço? O que nos faz apaixonados por ele? Já pararam para pensar? O mais perto que cheguei foi isso. Recomendo que leiam também os textos (todos) sobre “avaianidade” que o Felipe Matos publicou no Memória Avaiana. Quem sabe daí saia uma resposta.


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