A segunda parte da entrevista que o Felipe Matos, do blogue Memória Avaiana, fez com o ex-presidente Flávio Félix foi demais. Foi uma entrevista, digamos, “delicada”, já que o tema é a gestão Zunino analisada por um antecessor e hoje desafeto (pelo menos na visão da diretoria atual, que proibiu uma faixa que exaltava Flávio Félix na Ressacada). Achei que em nenhum momento caiu nos ataques gratuitos contra a gestão avaiana.
Parabenizo entrevistado e entrevistador e já deixo a sugestão pro Felipe, que é historiador e tem um blogue sobre a história do Avaí, que entreviste também outros ex-presidentes. Eles passaram por lá, sabem como é e podem contribuir com idéias para o clube.
Sobre a segunda parte da entrevista, destaco esses pontos que o ex-presidente falou:
“O torcedor não têm saudades do Flávio, na verdade, mas do modelo de gestão que fugia dessa tal de profissionalização que tornou os clubes reféns de presidentes milionários ou de empresários espertos, quando não dos dois exemplos. Os clubes melhores administrados do país, São Paulo, Santos, entre outros, seguem outros caminhos. É mentira que precisamos de empresários espertalhões como parceiros. No mais, esta mercantilização despudorada existente em alguns clubes, sem qualquer transparência, tira o romantismo do torcedor.”
Não sei dizer se Flávio Félix era bom ou mau presidente para o clube. Não me ligava na administração do Avaí na época (tinha entre 13 e 17 anos quando ele foi presidente), somente nos resultados em campo. E posso dizer que era feliz com os resultados na época. Então, ele foi um bom presidente para o torcedor. Sobre a profissionalização e mercantilização, concordo plenamente com ele. Sempre vão aparecer vozes, inclusive na imprensa, dizendo que “o futebol de hoje é assim”. Não é não. Não precisa ser assim. Sempre há outras alternativas.
Essas mesmas pessoas também vivem repetindo que a globalização das equipes de futebol – supertimes montados com fortunas dos xeques e barões do petróleo reunindo jogadores do mundo inteiro – é um caminho sem volta. Aí aparece o Barcelona com nove jogadores formados em sua base, seis deles da sua própria região, a Catalunha (que tem população semelhante à de Santa Catarina), e monta o maior time que vimos nos últimos 20 ou 30 anos. Outra alternativa sempre é possível
“Fazer futebol é difícil em qualquer lugar. Mas, se voce contrata uma centena de profissionais por ano, entre jogadores, treinadores, auxiliares, preparadores, diretores e funcionários por ano, deve ser bem mais difícil mesmo para o clube.”
Perfeito. Conheço gente que reclama que não tem dinheiro – e não tem mesmo, que eu sei – mas anda com um carro que vale o dobro do meu (eu não tenho muito dinheiro, mas não reclamo. Agradeço o que tenho). O Avaí “não tem dinheiro”, mas contratou 40 jogadores em 2011 e mantinha um elenco com quase 50. Por que não contratar 10 ou 15 (bons) e manter um elenco com 30 ou 33, então?
“Mas, provavelmente vai haver [um grupo organizado de oposição], salvo se o caminho da atual diretoria for corrigido, pois ai perde o sentido fazer oposição pelo poder simplesmente.”
Concordo. Querer o bem do clube é uma coisa. Politicagem, outra bem diferente.
“Só na várzea o Presidente tem que colocar dinheiro.”
Tô indo lá na gráfica encomendar uma faixa com essa frase. Perfeito. Isso é coisa da década de 1970 e olhe lá. Já era.
“Sou totalmente favorável as eleições diretas. Desde a época da ditadura. Nos clubes mais ainda. O clube é dos sócios e cabe a eles escolherem diretamente seus mandatários.”
Estou de pleno acordo. O Internacional, clube que saiu da sombra do Grêmio para ser um dos maiores da América na última década, adota eleições diretas. Torcedores de Vitória e Palmeiras organizam movimentos para cobrar eleições nos seus clubes. A participação do sócio-torcedor na vida do clube é um caminho sem volta. Espero que essa “novidade” não demore a chegar em Santa Catarina.
Pra finalizar, faço Ctrl+C e Ctrl+V de mais um blogue avaiano, o Avaixonados, do Gerson dos Santos, que sintetiza o que penso: “… não me coloco como opositor ou apoiador do atual ou dos antigos grupos de diretorias, já que meu vínculo é exclusivo ao grupo do torcedor, aquele que rala a bunda na arquibancada e volta pra casa sem voz depois de 90min de alegria e sofrimento. Sou Avaí e nada mais.” (grifo do autor – e meu também)