A relação entre preço e público

A Ressacada não é mais a mesma. Claro, isso quem vai ao estádio percebe. Aquela torcida que comparecia, era vibrante e empolgada que começou a se formar na Série B de 2007 (mesmo com média de público ruim, éramos participativos) não existe mais. A Ressacada é hoje fria e, principalmente, vazia.

Há muitas teorias para isso. Vou me ater à alta dos valores de ingressos e mensalidades, política praticada a partir de 2010 e que permanece até hoje, dois anos e meio depois.

Achei em vários blogues e sites dados sobre as médias de público do Avaí em campeonatos passados. Para efeito de comparação, adotei apenas as médias em Campeonato Catarinense e Campeonato Brasileiro. Claro que não é uma comparação perfeita, pois a Série A atrai mais público (nosso e visitante) que a Série B, mas, mesmo assim, pode-se tirar algumas conclusões. Excluí Copa do Brasil e Sul-Americana porque não são torneios que o Leão disputa todo ano. Ficaria, por exemplo, um hiato de sete anos (2000-2007) entre duas participações de Copa do Brasil e a Sul-Americana de 2010 só poderia ser comparada com ela mesma. Acho que não funcionaria.

Preferi pegar anos contínuos e só encontrei dados contínuos de 2005 até hoje (há um dado isolado de 1997, outro de 1988, outro de 2001 e por aí vai). É com esses anos em sequência (2005-2012) que trabalhei. Todos os números abaixo referem-se a público pagante.

Campeonato Catarinense

Começo pelo gráfico abaixo, que mostra as médias de púbico do Avaí no Campeonato Catarinense de 2005 até hoje. Se quiser visualizar melhor, clique sobre ele.

Percebam que no período 2008-2010 houve aumento na média e que, depois de 2010, o gráfico mostra queda na presença de público. Para se ter uma ideia, a média de público do Avaí no Catarinense 2012 (5.342), quando ele foi campeão, teve dois clássicos e uma semifinal na Ressacada, é menor que a média do clube no Catarinense 2008 (5.445), quando não alcançamos as finais e tivemos só um clássico na Ressacada.

O gráfico mostra também que o crescimento na média de público do Catarinense 2009 para o Catarinense 2010 foi pequeno: de 6.881 para 7.070 pagantes por jogo. Em 2010, no primeiro campeonato após a facada o aumento dos preços, tivemos dois clássicos na Ressacada, um deles valendo final do segundo turno e vaga na decisão. Tivemos também duas semifinais de turno e a decisão contra o JEC. Falando nisso, em 2010 a Ressacada já tinha passado por reforma e comportava mais público. Em 2009, com estádio socado de gente, a final teve 14 mil pagantes. Em 2010, com estádio socado de avaianos e setor visitante vazio, foram 16 mil pagantes. Mesmo assim, na média, 2010 teve apenas 189 pagantes a mais que no ano anterior.

Nos últimos dois anos, a média de público do Avaí no Catarinense só diminuiu: queda de 24,2% em 2011 em relação a 2010 e de 0,3% de 2012 em relação a 2011. No período 2008-2010, houve sempre crescimento (+74,8%, depois +26,3% e, por fim, mais 2,7%).

Campeonato Brasileiro

O gráfico abaixo mostra as médias de público do Avaí no Campeonato Brasileiro desde 2005.

Como disse, a comparação não é perfeita porque Série B e Série A são campeonatos diferentes, mas é possível tirar conclusões. A média, que foi parelha entre 2006 e 2007, cresceu bastante em 2008 e ainda mais em 2009, já na Série A. Ainda na elite, nos dois anos seguintes, com a nova política de preços, a presença de público despencou. A média de 2011 (Série A) foi inferior à de 2008 (Série B). A de 2012 voltou a patamares do período 2005-2007 (considerando até o jogo contra o ASA).

Vale lembrar que as médias de 2010 e 2011 só não foram piores porque o Avaí adotou a prática das promoções. As 34 mil pessoas que foram aos jogos contra Santos e Atlético Goianiense em 2010 (17 mil em cada jogo, evidentemente), por exemplo, ajudaram a elevar a média de público em cerca de mil pagantes por jogo.

No Campeonato Brasileiro, o Avaí manteve crescimento na média de público no período 2007-2009 (+1,7%, depois +84,7% e, por fim, +45,4%). Já entre 2010-2012, só queda de um ano para outro: -5,3% em 2010, -28,2% em 2011 e, por enquanto, -34,3% em 2012.

Geral

Não tenho todos os dados brutos de público presente, mas fiz uma média geral de presença de público na Ressacada em jogos do Catarinense e Brasileiro multiplicando as médias do Avaí nos torneios pelo número de partidas que o Leão disputou em seu estádio em cada um deles. O resultado é esse gráfico abaixo.

O auge da presença de público nessas duas competições foi 2009, com ligeira queda em 2010 e ladeira abaixo a partir daí.

E então?

Bom, os números mostram que a queda vertiginosa na presença de público na Ressacada e a inversão de uma tendência de crescimento no número de torcedores presentes ao estádio aconteu, coincidentemente ou não, depois do aumento nos valores de ingressos e mensalidades. Digo “tendência de crescimento” pelo que os gráficos acima mostraram, pela melhora na infra-estrutura do estádio e no acesso a ele (ainda é um transtorno, principalmente na saída do jogo, mas na década de 1990 era muito pior ir até a Ressacada).

Pode ser que não só o preço explique o fenômeno. Desempenho do time, crescimento do pay-per-view e outros fatores podem ser analisados para tentar descobrir quais motivos fizeram a torcida correr da Ressacada. Para fazer essa análise mais qualitativa, teria que ouvir quem deixou de ir ao estádio. E os dados dos ex-sócios, com nome, telefone, e-mail e endereço não sou eu que tenho.

Fontes: De Canhota, Blog do Castiel, FutebolSC, História da Torcida, Wikipédia

3 Respostas to “A relação entre preço e público”


  1. 1 GutoAtherino 10 de julho de 2012 às 13:16

    Felipe, como previa, ótimo texto. A Ressacada só pode ser comparada com a própria Ressacada. Fazer análise comparativa com qualquer outra praça esportiva é balela e conversa de bar (ou, ainda, jogar para a torcida).

    Bom, suas proposições na conclusão estão perfeitas. Particularmente, acredito que a presença da torcida no estádio ainda é muito dependente de resultados (leia-se campanhas motivantes), ou seja, mesmo considerando uma parcela de culpa para a política de preços com o torcedor não o vejo como principal fator influenciador para a curva decrescente nos gráficos.

    Aliás, política de preços eu entendo ser menos importante do que política de relacionamento com o torcedor. Claro que as duas estão interligadas, mas esta sim deve ser trabalhada com muito mais atenção e tem o poder de diminuir a dependência por resultados.

    Nesse sentido, de melhor trabalhar o relacionamento com o torcedor, a sua sugestão de pesquisas qualitativas é perfeita. O duro é que no Brasil, e potencializado em Floripa, tudo vira piada. Ou seja, já vi muito esforço do pessoal do clube não vingar por pura chacota da torcida. A força da crítica pejorativa é grande.

    Do mais, outras considerações:
    – entendo o seu argumento de que a participação isolada em algumas competições impossibilita uma melhor análise contínua, mas podemos utilizá-las se o estudo juntar todas as competições por ano. Ou seja, em 2010 junta Catarinense, Série A, Copa do Brasil e Sulamericana. Já em 2011, Catarinense, Série A e Copa do Brasil. E em 2012, Catarinense e Série B. Não deve alterar muito, mas acho importante pois a Sulamericana em 2010 e a Copa do Brasil em 2011 foram as principais campanhas do Avaí nesses anos;

    – já que a proposta é analisar a relação Preço X Público, seria interessante fazer um levantamento mais detalhado de quanto custou o ingresso e a mensalidade de sócio média em cada período. Não deve ser fácil, mas seria fundamental para validar ou não o senso comum que acreditamos de que a política de preços do clube é a grande vilã;

    – na mesma linha do tópico anterior, seria interessante avaliar o crescimento do PPV. Será que está realmente acontecendo uma migração dos torcedores? Lembro que inicialmente era muito caro assinar os canais, hoje nem tanto;

    Bom, já chega! Eu me empolgo e se deixar escrevo mais que tu no post (tá quase!).

    Abraço,
    Guto

  2. 2 Ney Lúcio Félix 11 de julho de 2012 às 09:58

    Podemos acrescentar a toda esta bela explanação o fato da colocação de cadeiras em todos os setores que, sabendo-se que é uma tendência mundial, a forma como foi feita trouxe separação de pessoas acostumadas a conviverem em todos os jogos mantendo um certo grau de amizade, respeito e integração nas comemorações.
    Queiram ou não, a marcação inicial de lugares, já que hoje poucos respeitam, trouxe insatisfação geral em todos os setores.


  1. 1 A visão do Guto « Solta o Leão! Trackback em 11 de julho de 2012 às 10:04

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