Sim, elas são azaradas

Dia desses acompanhava no Twitter várias manifestações sobre as camisas de goleiro em homenagem às cidades que o Avaí usa. Alguns dizem que elas dão azar. Outros reclamavam de quem diz que ela dá azar. Um troço feroz até, o povo bem brabo, indignado. Achei engraçado. Porque isso só pode acontecer mesmo com futebol, esse esporte onde a mandinga e a superstição estão fortemente presentes.

E fui atrás pra ver se as tais camisas são mesmo azaradas. Peguei a lista de cidades homenageadas que o InfoEsporte publicou, joguei no Google “Avaí homenagem XXXX”, onde XXXX era o nome de cada cidade, e fui encontrando notícias sobre as homenagens. E, olha, foi surpreendente o que descobri. As maiorias das notícias eram pré-jogo e pode ter uma partida ou outra em que a homenagem tenha falhado (acho que aconteceu uma vez, que o árbitro pediu pro goleiro trocar a camisa), mas a diferença de aproveitamento do Avaí com e sem camisa homenagem é tão grande que isso pouco interferiria no resultado final.

Vamos lá.

O Avaí começou as homenagens em 1 de maio de 2011, num jogo contra a Chapecoense, em Chapecó. Naquele dia, Renan usou uma camisa em homenagem à cidade-sede da partida, com a imagem da estátua do desbravador, famosa por aquelas bandas. Na estreia das homenagens, empatamos com os do Oeste e, com isso, fomos eliminados do estadual. Mal sinal.

De lá para cá, o Leão disputou 35 partidas com as camisas em homenagem às cidades (na verdade, 34 cidades e uma para o Berbigão do Boca) e somou sete vitórias, 11 empates e 17 derrotas. Isso dá um aproveitamento de pontos de 30,47% (32 pontos somados em 105 possíveis). Pouco melhor que o nosso aproveitamento na Série A ano passado, que foi de 27,19%.

No mesmo período, o Avaí jogou 31 vezes sem as camisas-homenagem. Foram 14 vitórias, cinco empates e 12 derrotas. Dá um aproveitamento de 50,53% dos pontos (47 somados em 93 possíveis). Para efeito de comparação, na campanha da Série A de 2009, a do sexto lugar, somamos exatos 50% dos pontos.

Hay que relativizar, claro. A maioria dos jogos com camisas-homenagem foram pela Série A, um campeonato bem mais difícil que o Catarinense. Mas, assim, mesmo pelo estadual ou Série B, não ganhamos nenhuma das quatro partidas em que os goleiros jogaram com as camisetas. Foram dois empates e duas derrotas (as duas derrotas em casa, para Figueirense e Metropolitano). Credo…

Aqui, a lista completa de jogos com e sem as camisas desde 1 de maio de 2011.

 

Agora, vamos falar sério

 

Os números acima são só pra dar uma pimentinha a essa discussão que acho fantástica e, como disse, só no futebol mesmo. O Botafogo também tinha uma mania com meias cinzas em jogos decisivos (não lembro se preferia usar ou não usar). O Palmeiras preferia usar meias brancas em finais (no fim, acabou ganhando seu maior título, a Libertadores, com meias verdes). Em Itajaí, tinha um esquema com a estátua do Marcílio Dias: se ela estava numa posição, o Marcílio (o time) ganhava; se estava em outra, perdia.

Faz parte do folclore futebolístico. Mas é claro que as camisas-homenagem, apesar de serem, digamos, azaradinhas, não determinam vitórias ou derrotas do Avaí.  A discussão sobre elas é outra.

Comecemos pela ideia de se fazer camisas em homenagem a cidades catarinenses: ela é genial. Em um estadinho – na verdade, vários estados dentro de um estado – bairrista como o nosso, um time da sempre malvista capital fazendo agrado às cidades do interior é bacana, muito bacana. O objetivo, imagino, é a interiorização da “marca” Avaí. Claro que não é só com as camisas que vai se conseguir isso, mas ela é uma das estratégias.

O que eu e mais alguns (pelo que leio, principalmente o Gerson, do Avaixonados) questionamos é a execução do troço. As camisas, em geral, são horrorosas. A de Rio do Sul é a foto de uma ponte com duas motocas passando e metade de um carro. A de Ituporanga, a foto da igreja com uma moto parada na frente (até com capacete no guidom) e umas cebolas “enfeitando” a peça. E aquela maçã gigante na camisa de São Joaquim? Nossa senhora, um mau gosto terrível…

Em vez de fotos, não daria pra fazer com desenhos de algum artista das cidades, por exemplo? Poderia demorar mais, sair mais caro, mas o efeito não ficaria melhor? Mostraria, pelo menos, mais cuidado e capricho com a coisa. E daria um acabamento perfeito a uma ideia que, repito, foi genial. É a minha opinião.

Mas claro que tudo isso que eu disse acima pode ser derrubado se o clube mostrar que as camisetas estão dando resultado (fora de campo, claro. hehe). O ganho de imagem que nós temos com ela é algo intangível, incalculável, não dá pra quantificar e só vai ser percebido ao longo do tempo, ok. Mas, por exemplo, alguns efeitos imediatos são quantificáveis e, sendo positivos, dão sustentação à estratégia.

A venda de produtos do Avaí em Concórdia (não só a camisa da homenagem, mas todos os produtos) aumentou? Pessoas de Lages que curtem o Avaí no Facebook, são quantas? E o número de sócios em Tubarão? Cresceu? Quantos por cento? E quanto isso significa em números reais (sim, porque se passou de quatro para cinco é um aumento de 25%, mas na prática significa quase nada)? Tendo alguns desses dados em mãos, o clube poderia publicar uma bela matéria mostrando que a estratégia está dando certo. E calar os críticos.

4 Respostas to “Sim, elas são azaradas”


  1. 1 Eduardo 22 de maio de 2012 às 17:03

    Deu pra rir com o último parágrafo.
    No dia em que a “Gestão Zunino” fazer um relatório desse naipe para mostrar os resultados pra torcida e imprensa, acho que o mundo vai realmente acabar.

  2. 2 felipefbs 23 de maio de 2012 às 11:02

    Eduardo, eu tenho fé e esperança nas pessoas. Vai acontecer um dia, eu espero.


  1. 1 A sina descamisada – SouAvaiano.com.br Trackback em 22 de maio de 2012 às 19:35
  2. 2 A matemática prova: é lazarenta, sim – SouAvaiano.com.br Trackback em 22 de maio de 2012 às 20:11

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