Me engana que eu gosto

Esta semana eu tive uma aula prática de hipocrisia, disciplina que deve estar sendo ensinada em alguns cursos de comunicação. Abri o Diário Catarinense e lá estava um anúncio da RBS incentivando os catarinenses a torcer por times da terra. Trazia a imagem de 10 torcedores (nove torcedores e uma torcedora, pra ser mais exato) das equipes da primeira divisão estadual e abaixo uma mensagem que dizia mais ou menos assim (não bati foto, falha minha): “torça para times catarinenses, não para times de outros estados”. Que lindo! Se não fosse muito macho (boys don’t cry, já diz aquela clássica canção), choraria.

Bom, aí chega quarta à noite, o último representante catarinense na Copa do Brasil entra em campo para defender o futebol do nosso estado, esse que a RBS diz que temos que valorizar no anúncio do DC, e… a RBS passa para 80% de Santa Catarina jogo do Sport Club Corinthians PAULISTA pela Libertadores. A partida da Chapecoense contra o Cruzeiro, só para o Oeste e Meio-Oeste.

Catarinense, torça para time catarinense, mas não espere que eu passe jogo de catarinense. Esse é o recado. Não foi a primeira vez, claro. Criciúma e Chapecoense foram ignorados quando jogaram a primeira fase da Copa do Brasil. Quantas e quantas vezes Avaí, Tigre e Figueirense tiveram seus jogos transmitidos apenas para suas regiões de origem, seja na Série A, B ou Copa do Brasil? E a rodada decisiva do estadual que rolava enquanto a RBS passava jogo do Botafogo (ou Fluminense, sei lá, é tudo igual) faz duas semanas?

Não esqueço também a noite em que estava em Canoinhas e não consegui assistir a um jogo entre Avaí e Ypiranga (RS) pela Copa BR, transmitido apenas para Florianópolis. Mas como eu, de Canoinhas, vou torcer pro Avaí, um time catarinense, como a RBS diz que eu tenho que fazer, se aqui a própria RBS só passa Flamengo? Alguma coisa está fora da ordem (VELOSO, 1991), não?

Quando a RBS faz campanha “Crack, nem pensar”, chovem pautas de crack a toda hora, em todos os cantos. Eu, que conheço uns 10 alcoólatras para cada viciado em em crack, começo a achar que o crack mata mais que o álcool (Lei Seca, por que existes?) e que nenhum problema na sociedade pode ser maior que o consumo de crack.

Por outro lado, a RBS faz campanha para que eu torça para times catarinenses, mas não passa jogo de time catarinense. É uma campanha institucional ou não é? Se é, desconfio que a empresa de comunicação não está fazendo isso direito. “Ah, mas eles visam à audiência, por isso passam jogo de RJ-SP”, dirão. OK, muito justo, mas então não venha me tirar pra otário (e a ti também) com campanha fake, porque isso, eu, nem tu, somos.

Mas sabem o que mais me admira mesmo? É os clubes se sujeitarem a esses caras por uns merréis que mal pagam a folha salarial. E todo ano estão lá, Avaí, Figueirense, Criciúma, rastejando, pedindo pelo amor de Deus que a RBS transmita o estadual (remember 2009).

Um clube sozinho pouco pode fazer. Logo sofreria represálias (jogos que não seriam transmitidos, ou transmissões sem closes na camisa, essas coisas que, sim, acontecem) e, isso, claro, não agradaria aos patrocinadores desse clube. Mas, pombas, 10 clubes unidos podem cobrar, podem exigir. Se não quer assim, tem outra TV que quer (a Record, no caso). Sem clubes, não tem campeonato. A Federação vai fazer o quê? Um campeonato de árbitros?

E dá-lhe botar jogo às 22h, e dá-lhe gravar entrevista com a caraça do jogador/treinador em primeiro plano pra não mostrar os patrocinadores, e dá-lhe jogo de Curintcha e Framengo transmitido pra Santa Catarina, e dá-lhe, mas dá-lhe muita, hipocrisia…

3 Respostas to “Me engana que eu gosto”


  1. 1 Fabio RP 21 de abril de 2012 às 20:18

    A verdade deste imbróglio é a de que “O Interior de SC”, reclama por não querer que os jogos dos times de Florianópolis passem para suas praças. Eles preferem ver (SIM) qualquer coisa a ver a Dupla de Fpolis invadindo a TV aberta deles. Ai entramos na onda deles de querer que a Record entre na brica pelos direitos de TV do estadual. Seria valido pelo lado financeiro.
    Mas pra quem interessa ver o interior forte?? Pra nós?? Nós queremos ser campeões estaduais ou jogar serie A? Agora achar que clubes do interior devem ter o mesmo tratamento de espaço de mídia de TV que os clubes de Fpolis. É dividir o Estado pra menos. Só fortalecendo o futebol de Fpolis vamos ter conquistas Nacionais e almejar algo maior. Se dividir e achar que o Interior merece seu espaço igualitário, vamos repartir o pouco que temos. Na serie A foi esse tratamento que tivemos e nem por isso berramos, esperneamos e brigamos com o mundo. É a lei de mercado. Faço um parenteses para algumas coisas que deveriam mudar: Valor da Cota de TV do estadual que deveria ser melhor negociada, os horários de jogos meio de semana e os Clássicos de Florianópolis deveriam (TODOS estados são assim) ser as 16:00 horas e passado para toda SC. Pois, quem não é visto não é lembrado. Quem pensa diferente é porque nunca ouviu um au au au.
    Abraços.

  2. 2 adrianojassis 21 de abril de 2012 às 21:36

    Belo texto! Adorei a análise!

  3. 3 felipefbs 22 de abril de 2012 às 23:37

    Fábio, entendo teu ponto de vista, mas (minha opinião) quero, sim, um interior e Florianópolis fortes. Senão, vira Campeonato Gaúcho, que tem 2 times e um monte de figurantes. Acho que a graça do Catarinense é ter esse equilíbrio de forças, que acaba “desequilibrando” um pouco por causa do Brasileiro (quem está na A, acaba tendo mais grana). Sobre a Série A, eu não tinha blogue na época, mas reclamava sim da TV, hehe. A gente tinha que aguentar um monte de peladas desses Flamengos da vida e, em 38, rodadas teve só um jogo do Avaí e um do Figueirense transmitidos.

    Obrigado pelos comentários, meus caros.


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